segunda-feira, 21 de abril de 2008

“PROCON NAS ÁGUAS”: AS RELAÇÕES DE CONSUMO PREDOMINANTES NAS POPULAÇÕES RIBEIRINHAS DO ARQUIPÉLAGO DO MARAJÓ.

Após uma leitura do relatório de pesquisa apresentado ao Ministério da Justiça como requisito de justificativa do projeto Procon nas Águas, um projeto piloto efetivado nas comunidades ribeirinhas dos municípios de Breves e Melgaço, podemos concluir que este projeto é um importante instrumento para identificar e compreender a realidade dos moradores ribeirinhos, com base nesses dados o estado poderá desenvolver políticas públicas para os moradores dessa região.

O projeto trabalha na efetiva aplicação do Artigo 4° do Código de Proteção e Defesa do Consumidor que trata sobre a política nacional de relações de consumo.

“A Política Nacional de Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, onde a garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho, constitui princípio a ser respeitado”.

De posse dessa observação é que o Ministério de Justiça através do DPDC em pareceria com a Secretaria de Estado de Justiça e Diretos Humanos – SEJUDH por meio da Diretoria de Proteção e Defesa do Consumidor – PROCON/PA objetivou a formulação do Projeto “Procon nas Águas”, com o intento do cumprimento às normas do Código de Defesa do Consumidor para que se cumpra o dever da instituição de promover a racionalização e melhoria dos serviços públicos (Art.4º, VII do CDC); o estudo constante das modificações do mercado de consumo e a melhoria da qualidade de vida das populações ribeirinhas que vivem às margens do processo de cidadania.

Mediante ao presente contexto é que foi planejada e executada a pesquisa de campo, objetivando a coleta de dados, desenvolvida por uma equipe de 07 componentes entre os dias 04 a 15 de dezembro do ano de 2007. Paralela a aplicação da pesquisa promoveu-se um trabalho de divulgação sobre a definição de consumo e direitos do consumidor, com a entrega de cartilhas didáticas.

Foram coletados dados nos municípios de Breves e Melgaço, direcionado a cada família residente as margens dos rios.

Em Breves foram visitadas as Vilas de Corcorvado e Margebraz, já em Melgaço, a coleta de dados foi em uma localidade denominada Vila Paricatuba.

Este primeiro contato serviu para a observação de fatores preponderantes à análise dos objetivos da pesquisa. Verificou-se que as populações da área visitada, vivem do extrativismo do açaí e em especial do cultivo e comercialização da mandioca, entretanto há que se enfatizar que a preponderância da agricultura agro-extrativa se dá mais ao nível de subsistência, até mesmo em função da inexistência de uma organização na produção.

As comunidades praticam a pesca de subsistência. É inegável o potencial madeireiro do município de Breves, entretanto percebe-se que o ribeirinho marajoara atua apenas como participante do processo, enquanto mão-de-obra esporádica, uma vez que é contratado para trabalhar durante uma determinada temporada, ou enquanto “diarista”, sobretudo trabalhando todos os dias, mas sem os devidos direitos trabalhistas.

Na medida em que a economia capitalista se expande no local, através das empresas madeireiras, dentre outras, a sociedade auto-transforma mudam as exigências e os padrões de consumo, daí a necessidade da efetiva divulgação (respeitando a cultura local) do Código de Defesa do Consumidor, para esclarecer a população local de seus direitos enquanto cidadão e consumidor.

Sendo assim, é de suma importância que os atores envolvidos nas esferas Estadual, Municipal e Federal, somem esforços para que as instituições competentes trabalhem no sentido da promoção de um desenvolvimento que promova a sustentabilidade da região, direcionando assim políticas públicas que possam promover trabalhos voltados à geração de renda - baseado na vocação da região - e uma educação de qualidade, que possa esclarecê-los do exercício de sua cidadania plena.

Texto produzido a partir do Relatório de Pesquisa apresentado ao Ministério da Justiça.

Ketno Lucas Santiago

Graduando em História pela Universidade do Vale do Acaraú

Chefe da Divisão de Educação e Projetos do PROCON/PA.

domingo, 20 de abril de 2008

Juventude e o papel das CEBs

O documento produzido na década de 60 no Concílio Vaticano II intitulado Gaudium et Spes, que tratava da constituição pastoral e enfatizava o papel social dos cristãos, ensejou a formação da Teologia da Libertação e das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), movimento progressista ainda ativo na Igreja Católica no final do século XX, e que durante a década de 70 e 80 exerceram uma grande atuação no campo sócio-político, acabando por se destacar como movimento importante no processo de libertação dos povos latino-americanos.
As Comunidades Eclesiais de Base tiveram grande importância como uma das mais ricas experiências realizadas na Igreja da América Latina nas últimas décadas, lançando profundas raízes de renovação em toda vida eclesial, transformando radicalmente o papel da igreja em vários países da região. As CEBs, em sua maioria impregnadas de Teologia da Libertação, contam com uma força da massas em vários países latino-americanos: Brasil, El Salvador, Peru e, em menor escala, Nicarágua, Colômbia, Chile e México.
Tendo como referência a mensagem libertadora do evangelho e o resgate de verdadeiros ícones da luta popular, como Ernesto Guevara, Frei Titto, dentre outros, a juventude constituiu o principal sujeito na construção, mobilização e organização dessas comunidades. Estas são formadas por pequenos grupos religiosos e locais, normalmente criados por representantes pastorais – bispos, sacerdotes, freiras e leigos formados e comissionados pela igreja, onde praticam a oração e a leitura da Bíblia, exercendo ainda um papel de organização e mobilização popular, motivando o debate e a reflexão sobre a realidade e a luta pela construção de uma sociedade justa e fraterna.
No meio urbano, é o bairro a unidade básica dessas comunidades; no campo, a própria região ou um sitio qualquer. Dentre os motivos que levaram ao seu surgimento e a sua proliferação, um de caráter prático era a escassez de sacerdotes que a Igreja sofria na América Latina. Mas resultaram também de processos mais profundos na sociedade e na Igreja latino-americana. Sem dúvida, significava uma resposta ao Concilio Vaticano II (1962-65) e ao CELAM (Conferencia do Episcopado Latino-Americano) realizado em Medellim, na Colômbia, em 1968. A Igreja Latino-Americana começava a romper com a tradicional distância que a separava dos pobres, e abandonar a postura secular de defesa do Status quo enquanto aparelho ideológico do Estado e das classes dominantes.
Foi exatamente a “opção preferencial pelos pobres” e o compromisso social da Igreja que estimularam a criação das CEBs e deram à luz a chamada “Teologia da Libertação”. Segundo Galilea, podemos distinguir três tendências na Teologia da Libertação. Estas tendências não são sempre excludentes, já que tem complementaridade e convergem na temática teológica.
Uma primeira tendência parece insistir menos que as demais no método de seu discurso teológico, na práxis libertadora dos cristãos e da Igreja. Sem negar que isto seja um lugar teológico, parte, em seu método, da noção bíblica de libertação, com rico conteúdo histórico, sociológico e “profético”, para ligar-se, a partir daí, com a realidade latino-americana e chegar-se a uma práxis.
As outras duas tendências têm um método mais interdisciplinar. A segunda dá mais importância à alma cultural do povo latino-americano, ao seu processo histórico (desde a conquista) de opressão-libertação, à religiosidade popular como fator importante de libertação. Trabalha sobre a interpretação da idéia de “povo”, aqui no sentido de classe oprimida. Possui uma grande preocupação com as virtualidades libertadoras do povo oprimido.
A terceira tendência, por sua vez, insiste mais no fator econômico, nas lutas de classes, nas ideologias, confrontadas criticamente com a fé. Ocorrem nesta tendência coincidências com alguns elementos da analise marxista, já aceitos pela sociologia e pela economia contemporâneas como contribuições válidas (elementos de crítica ao capitalismo dependente, as tenções de classes como inerente a este sistema, e forte influencia dos fatores econômicos nas demais estruturas da sociedade...).
A presença da juventude nas CEBs, sem dúvida, conferem uma dinamicidade importante em todos os campos. A juventude está presente nos grupos de capoeira, Hip-Hop, teatro, dança, música, nos cursos de formação política, alfabetização de adultos, crisma e catequese. A rebeldia, essa capacidade inerente no ser humano de ver o real transfigurado, de projetar, criar alternativas, não se sujeitar diante do ideário adestrador propagado pelos sepultadores de sonhos de que fora do “mercado” não há salvação, esta capacidade de transcender leva a juventude a ocupar terras, praças, avenidas, dando sentido e vida ao que canta o hino “Verás que um filho teu não foge à luta”.
Neste sentido, as CEBs se configuram como instrumento de luta do povo por sua libertação. Estas, em que pese a ofensiva conservadora do Vaticano e toda crise que afetou o campo progressista na década de 90, continuam vivas e atuantes na luta pela efetivação dos direitos humanos, no combate a pobreza que assola a maioria dos brasileiros, sem perder de vista a perspectiva do sonho socialista por uma terra sem amos, por uma Igreja menos hierárquica, por uma Igreja dos pobres!

Michel Sodré

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Juventude negra nas comunidades remanescente de quilombo: identidade e resgate de sua cultura٭

Juventude negra nas comunidades remanescente de quilombo: identidade e resgate de sua cultura٭

Maílson Lima٭٭

O Brasil foi o último país a abolir a escravidão em maio de 2008 completam-se 120 da abolição, há o que comemorar? Não, pelo fato é que nós negros continuamos a margem da sociedade sofrendo racismo e discriminação. Devemos fazer uma reflexão sobre estes fatos que ocorreram e ocorrem no Brasil, um dos pontos de partida é conhecermos a história de nossos ancestrais, é conhecer a história da África, a cultura afro-brasileira para que nossa juventude tenha seus valores e direitos garantidos, sobretudo respeitados.

A África é um continente com uma área de 30,33 milhões de km2, 19% das terras emersas do planeta, divide-se em 54 países e mais de 800 milhões de habitantes é o terceiro maior planeta da terra e o segundo mais populoso, o continente africano é bastante rico em recursos minerais, cortado pela linha do Equador, a África possui relativamente poucos rios cabendo a maior importância ao Nilo, este é o segundo mais extenso do mundo. A África possui pouca população e distribuição irregular apesar de ser o terceiro continente em extensão; grande parte do continente é ocupada por área desfavorável à ocupação humana, alguns pesquisadores afirmam que a África recebeu pouca corrente migratória. Sua população predominante negra, diversos grupos brancos e povos negros, três religiões principais o islamismo que se manifesta mais na África branca; o cristianismo religião levada por missionários e professada por pontos esparsos da África; o animismo (pagã) professado por toda a África negra, a religiosidade africana reconhece a existência do Deus da criação mais não o define, e quando os europeus entraram em contato com os habitantes da África tiraram a conclusão que eles eram pagãos e politeístas.

A atual divisão da África reflete os interesses dos colonizadores, ao conseguirem suas independências os países africanos tiveram que se moldarem as fronteiras legadas pelos colonizadores. Estas separaram grupos humanos de maneira artificial que pertenciam a mesmas tribos falantes dos mesmos dialetos e praticantes dos mesmos dialetos e dos mesmos costumes, a segregação racial assumiu formas rígidas e violentas exemplo das Leis do Apartheid que configurou uma segregação racial institucionalizada.

Compreender a África e sua história requer buscar entender suas especificidades, para não preterirmos uma visão ocidental preconceituosa deste continente. Assim busca-se nos historiadores que nos mostram como rapidamente o negro vai sendo penalizado pelo peso dos modelos europeus, mas, sobretudo, católicos, que tinham sobre a África.

Sua escravização é percebida como um presente capaz de introduzi-los a uma cultura superior e à salvação de suas almas. Do ponto de vista europeu, seu modo de viver é bestial, selvagem. Seus códigos quanto ao vestir, comer, morar os coloca no limiar da animalidade. São idolátras. Falta-lhes racionalidade. Sua vida nômade é sinônima de desorganização social. Suas qualidades de coragem e força física não são percebidas, são chamados de “gente pobre, rude e selvagem”. Dizia-se que eram antropófagos”. (DEL PRIORE E VENÂNCIO, 2004, p. 69).

O Brasil atual é resultante do encontro de culturas principalmente dos africanos “deportados” e que aqui se encontraram nas condições históricas conhecidas, ou seja, trouxeram sua contribuição na formação deste povo e da história do Brasil, na construção da identidade e da cultura brasileira.

É por isso que conhecer o Brasil equivale a conhecer a história e a cultura da África. Porém a nossa historiografia oficial, maioria dos livros e materiais didáticos que "conhecemos", as contribuições dos africanos e seus descendentes brasileiros são geralmente ausentes dos livros didáticos e quando são presentes são apresentadas de um ponto de vista estereotipado e preconceituoso. Conseqüentemente, os brasileiros de ascendência africana, ficam privados da memória de seus ancestrais no sistema do ensino público oficial, acarretando uma baixa auto-estima e a construção de uma identidade negativa.

Geralmente, nas realidades sócio-culturais os agrupamentos tais como as favelas os quilombos urbanos e rurais aparecem como configurações territoriais depreciativas desmembradas de um passado e de um presente histórico comum ao descendente africano.

O enfoque da história do negro e da África e de suas dinâmicas culturais, configurações territoriais, e espaços sociais podem ser apresentados através da imagem colaborando desta forma na rememoração da história da população negra, na re-construção da identidade afro-descendente bem como na apreensão do conhecimento.

Onde há escravidão, há revolta. Essa máxima é válida a todas as situações, sendo fácil entende-la: ser retirado da sociedade em que se vive e transformado em mercadoria, marcado a ferro e fogo, e explorado até a morte é uma experiência dificilmente aceita de maneira passiva. No entanto, o dia-a-dia da resistência cativa variou no interior de cada sociedade.

As discussões sobre as populações remanescentes de quilombo em nosso país atravessam séculos. Eles vieram de várias partes da África trouxeram suas culturas que sobreviveram, resistiram ou se fundiram, mas serviram como elemento de resistência contra sua opressão.

Os negros no período da escravidão que conseguiam fugir se refugiavam com outros em situação semelhante em locais bastantes escondidos nos meios das matas. Estes locais eram conhecidos como Quilombos - lugar de refúgio, lá eles constituíam comunidades e viviam de acordo com suas culturas plantando e produzindo em comunidade. Os quilombos representavam uma das formas de resistência e combate a escravidão, os negros buscavam a liberdade resgatando a cultura e a forma de viver que deixaram na áfrica, contribuindo para a formação da cultura afro-brasileira.

O processo tradicional da busca de liberdade consistiu invariavelmente na fuga para os matos, onde os se reuniam entre si, e formavam os quilombos. A fuga deve ter sido, no começo, solução bastante arriscada, além de empreitada individual. Na floresta o negro se achava sozinho. Às vezes, conseguia chegar a alguma aldeia indígena e, por sorte, acabava vivendo amistosamente com os silvícolas. Bandeava-se desta forma para grupos totalmente estranhos e que, com ele, só tinham um traço comum: o ódio ao branco dominador. (SALLES, 2005, p.).

Muitas são as comunidades remanescentes de quilombo no Brasil e uma parte desta encontra-se localizada no Estado do Pará, onde há presença marcante da juventude.

O Brasil conta hoje com o maior contingente de jovens entre 15 a 24 anos da sua história, são mais de 34 milhões, segundo o IBGE. O que seria uma ótima notícia transformou-se numa das mais sérias dificuldades que o país enfrenta. A sociedade não se preparou para receber este enorme contingente de pessoas, nem lhe ofereceu as condições mínimas para o exercício pleno da cidadania, talvez seja importante fazermos um resgate da importância da temática juventude, pois esta deve ser tratada como um sujeito pleno de seus direitos e não pela visão que ela “cria” para a sociedade. Aliás, todos os problemas que são atribuídos à juventude como relação às drogas, tráfico, violência, gravidez na adolescência, baixa qualificação no mercado de trabalho entre outros, nada mais são do que a negação dos direitos sociais básicos.

O desafio de lutar contra o racismo no Brasil está justamente em compreender suas formas de existência. E buscar superar certas dicotomias como as relações elite/ povo e branco /negro.

As comunidades remanescentes de quilombo buscam o auto-reconhecimento identitário e a afirmação sócio-cultural, questões que vão se somar aos problemas econômicos resultantes do isolamento geográfico e da formação histórica do país.

Assim percebemos que em um mundo globalizado, a diversidade cultural local cede lugar para a massificação e a juventude é seguimento bastante vulnerável a esta massificação, a cultura tem papel importante tanto no desenvolvimento econômico quanto humano. A perspectiva da juventude remanescentes de quilombo conhecer sua ancestralidade e assumirem o papel de agentes culturais de seus valores conhecendo-os é tarefa da atualidade.

Para tanto, busca-se uma reflexão a partir de autores como Damascena e Adriane (2005) que afirmam:

“a discussão no campo da cultura possibilita novas perspectivas de compreensão, tanto do ponto de vista da identidade, podendo assim descortinar importantes elementos de uma pratica educativa nos espaços de troca...” (Damascena, Adriane, 2005).

Compreender como se dar a convivência cotidiana dos jovens nas comunidades coletando sua realidade, pois a constatação da ausência de informações referentes às ações públicas ligadas ao trabalho, lazer, cultura e educação sinalizam esforços de busca de resgate de sua identidade. O mundo da cultura aparece como um espaço privilegiado das práticas, representações, símbolos e rituais no quais os jovens buscam demarcar uma identidade juvenil. Alguns contextos nos indicam que as dimensões do consumo e da produção cultural têm se apresentado como campo social aglutinador dos sentidos existenciais da juventude, proporcionando também a formação de novas identidades coletivas e que estão também influenciando a juventude nas comunidades remanescentes de Quilombo.

É preciso, contudo, que se tenha atenção para o fato de que as práticas coletivas juvenis não são homogêneas.

As configurações sociais em torno da identidade cultural se constituem abstratamente, mas se orientam conforme os objetivos que as coletividades juvenis são capazes de processar num contexto de múltiplas influencias externas e interesses produzidos no interior de cada agrupamento especifico. Em torno do mesmo estilo cultural podem ocorrer práticas de delinqüência, intolerância e agressividade, assim como outras orientações para e fruição saudável do tempo livre ou ainda para a mobilização cidadã em torno da realização de ações solidárias.

A inserção no mundo da cultura traz não só uma nova capacidade organizativa aos jovens, mas também interfere na construção da sua identidade, fortalecimento da auto-estima, aproximação dos elementos da cultura alicerçados numa matriz cultural africana, exercício da criatividade, segurança, possibilidade de se tornarem criadores ativos, contra todos os limites de um contexto social que lhes nega as condições dignas de sobrevivência são alguns exemplos da força da cultura na vida dessas pessoas. Os jovens se articulam em torno de agrupamentos, idéias, redes que agregam práticas culturais semelhantes. A existência dessas configura a formação de alianças de laços de solidariedade, de espaços de lazer e sociabilidade trocas de experiências entre jovens, mas é importante lembrar que os jovens participam também de outras redes estabelecidas com outros sujeitos, grupos e instituições sociais nas quais desenvolvem praticas culturais diversas: a família, os grupos religiosos, as comunidades, os colegas são alguns delas.

A complexidade dessas reflexões revela que para melhor compreende-las, é preciso se aprofundar nas questões da construção da identidade da juventude remanescente de quilombo buscando o entendimento sobre os significados das referencias culturais de matriz africana na trajetória de vida dos jovens negros nas comunidades. Captar e compreender o papel deste resgate de sua cultura na atualidade é importante para se fazer frente às diversas formas de fenômenos que estão envolvendo a juventude nas comunidades remanescentes de quilombo a exemplo de furtos, violência e a delinqüência juvenil, fenômenos presentes na juventude urbana que aumentam cotidianamente a revelia do poder publico que tem tornado-se incapaz de dar respostas significativas para superar este dilema, o qual está chegando nas comunidades remanescentes de Quilombo destruindo o presente dessas juventudes, apagando seu passado e impossibilitando a construção de um futuro com dignidade.

Observarmos que em algumas comunidades há constatação de pouca valorização do universo cultural do negro, como também existe necessidade de se “desclandestinizar” sua forma de viver, suas culturas para que não se sintam inferiorizados frente à massificação de outras expressões culturais. Com isso é preciso compreender como as práticas culturais interferem no processo de construção da identidade negra como um componente da formação humana, fazendo parte da sua construção histórica, social e cultural.

A identidade negra deve ser entendida aqui como um processo constituído historicamente em uma sociedade que padece de um racismo ambíguo e do mito da democracia racial. Como qualquer processo identitário, ela se constrói no contato com o outro, no contraste com o outro, na negociação, na troca, nos conflitos e no diálogo. Muitos autores teorizam que a identidade para se constituir como realidade, pressupõe uma interação. A idéia que uma pessoa faz de si mesmo de seu “eu”, é intermediada pelo reconhecimento obtido dos outros em decorrência de seu contato. Nenhuma identidade é constituída no isolamento, se constituem de relações diversas.

“É preciso problematizar a questão da transmissão e da construção do saber, levando em consideração que os homens produzem esses processos ao longo da historia, nas dimensões sociais e culturais, e os elabora e constitui no cotidiano através da experiência.” (DAMASCENA E ADRIANE, 2005)

Ao refletirmos sobre identidade da juventude negra das comunidades remanescentes de quilombo, poderemos em principio dizer que o racismo aqui desenvolvido exerce influencia preponderante no sentido de os negros se sentirem “encurralados” em seu ambiente social de convivência. Ao mesmo tempo em que fragmenta a sua identidade, este racismo também o impulsiona em direção à busca de referencias identitárias africanas e assim afirmarem-se como cidadãos que possuem vivencias cotidianamente menosprezada pelo racismo presente na sociedade. Estas referências foram re-significadas em nossa sociedade, em meio à miscigenação racial e cultural, num processo não menos tenso, de busca da continuidade e recriação.

Compreender a complexidade presente na construção da identidade da juventude negra deverá ser tarefa importante para se subsidiar os estudos de forma coerente sobre a questão racial nas comunidades. Porém sabemos que falta-nos desenvolver estudos e pesquisas que articulem essa construção da identidade negra na juventude remanescente de quilombo com o intuito de fazer um regate de sua cultura e conhecer de fato a realidade das juventudes remanescentes de quilombo. Como se dar essa construção dessa identidade? Um olhar sobre os jovens e sua cultura, conhecendo a história da África poderá nos ajudar a responder está inquietação.

Postado por Ana Paula Di Sá , Belém, 18/04/2008.



٭ Este texto faz parte de meus estudos no curso de Especialização em História e Cultura Afro-brasileira e Africana.

٭٭ Graduado pela Universidade Estadual do Pará, Especialista em História e Cultura Afro-brasileira e Africana pela Universidade Federal do Pará, vice-presidente da União Nacional dos Estudantes em 2001 a 2003, ex-presidente estadual da UJS; atualmente é Assessor da Coordenadoria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos, militante da UNEGRO e Secretário de juventude Estadual do PCdoB Pará.

CEMJA - CONVIDA PLENÁRIA DA UNEGRO

A União de Negros pela Igualdade - UNEGRO convida a todos que defendem a igualdade racial, para participar de sua Plenária Estadual cujo tema: “Políticas Públicas de Combate ao Racismo no Pará - UNEGRO a construção de uma nova Direção”, a ser realizada no dia 19/04 - sábado das 08h às 13h no Teatro Estação Gasômetro localizado na Avenida Magalhães Barata, 830 - São Brás.

Quando uma mulher, de certa tribo da África, sabe que está grávida, segue para a selva com outras mulheres e juntas rezam e meditam até que aparece a canção da criança.
Quando nasce a criança, a comunidade se junta e lhe cantam a sua canção.
Logo, quando a criança começa sua educação, o povo se junta e lhe cantam sua canção.
Quando se torna adulto, a gente se junta novamente e canta.
Quando chega o momento do seu casamento a pessoa escuta a sua canção.
Música Canção dos Povos

Na história de diversas populações, a música representa um significado e um sentido de força, relação social, sobretudo ao analisarmos o quanto à música tem sentido e significado de fortalecimento para os povos africanos, deste modo caracterizando o processo histórico que é marcado pela nossa ancestralidade.
É relevante re-contarmos a história da nossa ancestralidade para o fortalecimento do processo histórico que está marcado pela africanidade, portanto somente através da nossa história é possível reconstruir as origens, as etnias e a memória dos nossos povos.

Pensar em africanidade nos remete ao sentido de reconhecimento do lugar histórico, sociopolítico e lúdico-cultural que nos situamos. A africanidade reconstruída no Brasil está calcada nos valores das tradições coletivas do amplo continente africano, presente e recriada no cotidiano dos grupos negros brasileiros.
Ensino afro-brasileiro (2007)

Neste contexto histórico está pressente a educação, não somente na escola, mas também é papel da escola, abordar epistemologicamente os diversos aspectos da teoria, assim a escola possibilita um pensar diferente e a construção de uma visão em que os estudantes e os atores sociais que perpassem o espaço escolar, possam construir sentidos e valores para a transformação deste espaço como espaço de reconstrução de que é possível: acreditar, valorizar e desejar outras formas de organização do espaço social na busca de uma sociedade para a igualdade.


Ana Paula Di Sá

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Plenária do PcdoB - 16/04/2008


O próprio homem é um produto da natureza, o qual se desenvolveu no seu ambiente e com ele. (Karl Marx)

O Partido Comunista neste sábado protagonizou mais um encontro entre os camaradas. A plenária do partido teve como objetivo maior apresentar seus pré-candidatos às eleições de 2008, este evento ocorreu no auditório da UEPA – campus do Marco às 15h do dia 12/04/2008 - sábado.

A presidente Municipal do Partido Leila Márcia também pré-candidata presidiu a mesa de abertura, agradeceu a todos os presentes, informou alguns fatos marcantes na trajetória do Partido. Depois chamou para compor a mesa personalidades históricas como Eron Bezerra – Membro da Comissão Nacional ocupa cargo de Secretário no Estado do Amazonas. Diva uma mulher de luta e garra que vivenciou a plena ditadura militar. Newton Miranda Presidente Estadual do Partido - candidato a prefeitura de Belém. Será homenageado e receberá o prêmio pelo Presidente Luís Inácio Lula por ter ousado e protagonizado a concessão de títulos aos ribeirinhos.

Os discursos dos camaradas lembraram o momento propício em que o partido vivencia no campo político de alianças com o Governo de Lula e de Ana Júlia. Relembraram os 36 anos de Guerrilha do Araguaia, fato histórico de luta e perseverança dos comunistas que naquele período foram torturados mortos e expulsos de suas vidas e de suas famílias.

Como toda história é datada, marcada por lutas, batalhas e vitórias, neste contexto contemporâneo os comunistas têm muito a recordar e comemorar.

Para tanto, comemorar e parabenizar os camaradas que ousam em prol de uma política onde o socialismo e a luta de classe protagonizam por uma sociedade igualitária e contínua pelo trabalho, por melhores condições de vida principalmente a classe menos favorecidos, ousar por uma educação pública, laica e, sobretudo de qualidade.

Assim, o partido na luta contínua com bela representatividade e força política, deste modo referendar alguns camaradas da nossa região: Socorro Gomes que encontra-se na Venezuela homenageada como Representante dos Países Socialista, primeira representante dos Direitos Humanos.

Jorge Panzera convidado para Secretário Adjunto do Chefe de Gabinete na pessoa de Carlos Poty – Chefe de Gabinete da Governadora Ana Júlia.

Diante do cenário atual ousar é ir para além de elegermos uma cadeira na Câmara Municipal de Belém, devemos sim ousar, principalmente pelo grande quadro político do PCdoB, composto por nomes com grande referência.

Assim elencamos os nomes de alguns camaradas que irão protagonizar as eleições de 2008.

Michel “o novo mundo é possível”

Antonio Carlos Junior – “Dedica sua fala a todos pré-candidatos e a família Grabois”.

Jorge Farias – “o Estado perdeu o controle, sua referência em relação a violência.

Crítica a Cia. Vale do Rio Doce, enclave da Amazônia e dos Governos Tucanos que usaram o capital do Estado.

Marcão Fontelles – “ Lança lista de baixo-assinado para a redução da jornada de trabalho sem a redução no salário. Pretende conquistar uma média de 23 a 24 mil assinaturas.

Rodrigo Moraes – “QUEM VEM COM TUDO NÃO CANSA

Faz deferência aos trinta e seis anos (36) da mais bela luta dos comunistas que foi a Guerrilha do Araguaia.

Diz que uma tática eleitoral é o momento para o partido se colocar como protagonista da sociedade.

Contar a historia do Brasil não devemos esquecer do PCdoB, dos camaradas torturados, mortos pela ditadura militar, e conclui, mesmo assim nunca os ditadores conseguiram calar a nossa VOZ.

Falo de Eneida:

Uma mulher de luta histórica, com história de vida, de luta, de guerrilha que ousa a lutar, a inovar a desafiar o novo, e acredita que o novo entrelaçado ao velho tudo é possível, sobretudo uma mulher que luta pelos direitos de outras mulheres.

Jorge Panzera parabeniza a plenária. E nós parabenizamos Jorge Panzera por ser ousado e protagonista no campo da política e da história do partido.

Parabenizamos a todos os que participaram da Plenária Comunista, e ousar a história do Partido é acreditarmos em uma política para o desenvolvimento do nosso Estado e de nossa sociedade paraense-amazônida.

Ana Paula Di Sá